Uma análise da narrativa jornalística auto-referencial sobre a fase prévia do escândalo do Caso Sendic

Ano: 2023 | Volume: 0 | Número: 55

Autores: Gastón Amen; Fernando Torres Andacht

Palavras-chave: escândalo político, mediatização, imaginário social, mentalidade semiótica, jornalismo autorreferencial

Resumo Português:

Neste artigo analisamos a mediatização retrospectiva e autorreferencial efetuada pelos jornalistas do jornal El Observador, na produção de notícias que iniciou o escândalo político que resultou na renúncia do então vice-presidente uruguaio, Raúl Sendic Rodríguez, no dia 9 de setembro de 2017. Essa notícia, publicada no dia 24 de fevereiro de 2016, foi o resultado de uma investigação que procurou esclarecer se era real o diploma em Genética Humana que Sendic alegava ter. De nossa análise, emerge a importância que nesse processo midiático tiveram os signos indiciais, uma vez que foram fundamentais no início do escândalo, quais sejam, a gravação e reprodução massiva de um diálogo telefônico no qual Sendic, sem ter clareza sobre o enquadramento da interação, admitiu perante uma jornalista que ele não tinha se diplomado. Também descobrimos que os fatores políticos e aqueles derivados da autoimagem profissional dos jornalistas envolvidos foram muito importantes nesta produção informativa. Tanto o posicionamento do jornal no espectro político, que era contrário ao governo do Frente Amplio na época, quanto o ideal de fidelidade aos fatos, que tem marcado a tradição do jornalismo investigativo, foram os principais fatores por trás desta produção de notícias. Esse processo noticioso trouxe para o primeiro plano uma transgressão que, à luz da noção semiótica de ‘mentalidade’ e dos signos icônicos e simbólicos do imaginário social uruguaio, foi interpretada como uma afronta a um mito central deste imaginário, o ‘mito de um país de cidadãos cultos’.

Resumo Inglês:

In this article, we analyze the retrospective, self-referential mediatization performed by journalists of the newspaper El Observador, of the news production that triggered the political scandal that led to the resignation of the then Uruguayan vice-president, Raúl Sendic Rodríguez, on September 9, 2017. This news was published on February 24, 2016; it was the result of an investigation that sought to ascertain whether the degree in Human Genetics that Sendic claimed to have been real. From the analysis, the importance that indexical signs had in this media process becomes clear, since they were central at the start of the scandal, namely the recording and massive reproduction of a telephone conversation in which Sendic, who was not certain about the frame of the interaction, admitted to a journalist that he had not completed a bachelor's degree. We also determined that political factors and those derived from the professional self-image of the journalists involved were very important in this news production. Both the positioning of the newspaper in the political spectrum opposed to the Frente Amplio government at the time and the ideal of being faithful to the facts, which has defined the tradition of investigative journalism, were the main factors that prompted this news production. It foregrounded a transgression that, in the light of the Peircean ‘mentality’ and the iconic and symbolic signs of the Uruguayan social imaginary, was interpreted as an affront to a central myth of this imaginary, namely, the 'myth of a country of cultured citizens'.

Resumo Espanhol:

En este artículo analizamos la mediatización retrospectiva y autorreferencial efectuada por periodistas del periódico El Observador, de la producción noticiosa que inició el escándalo político que derivó en la renuncia del entonces vicepresidente uruguayo, Raúl Sendic Rodríguez, el 9 de setiembre de 2017. Esta noticia, publicada el 24 de febrero de 2016, fue el resultado de una investigación que buscó dilucidar si era real la licenciatura en Genética Humana que Sendic afirmaba tener. A partir del análisis, surge la importancia que en ese proceso mediático tuvieron los signos indiciales, dado que fueron centrales en el comienzo del escándalo, la grabación y reproducción masiva de un diálogo telefónico donde Sendic, sin tener claro el encuadre de la interacción, reconoció ante una periodista que no había cursado una licenciatura. También constatamos que los factores políticos y los derivados de la auto imagen profesional de los periodistas implicados fueron muy importantes en esta producción noticiosa. Tanto el posicionamiento del periódico en el espectro político opositor al gobierno del Frente Amplio de ese entonces, como el ideal de la fidelidad a los hechos, que ha marcado la tradición del periodismo de investigación, fueron los principales factores que animaron esta elaboración noticiosa. Ella puso en primer plano una transgresión que, a la luz de la noción semiótica de ‘mentalidad’ y de los signos icónicos y simbólicos del imaginario social uruguayo, fue interpretada como una afrenta a un mito central de este imaginario mesocrático, como lo es el ‘mito de un país de ciudadanos cultos.