A obra digital Liberdade (2014), um ambiente poético em 3D, é uma das mais recentes obras da literatura digital brasileira, publicada na Electronic Literature Collection 3 (2016). As imagens, animações, áudios, palavras e origamis que estão distribuÃdos no espaço gráfico-visual constroem um tecido simbólico que, por um lado, faz referência ao bairro Liberdade, da cidade de São Paulo, e é, por outro, um "estudo" da relação entre memória e esquecimento, entre recordações e a passagem do tempo, da capacidade de os objetos (materiais e imateriais) de serem meios de inscrição de e acesso a experiências pessoais e coletivas. Mas este artigo dedica-se essencialmente aos desafios da navegação e da leitura nesta obra. Destaco três aspectos desses desafios: 1) a imersão em um ambiente hipermedial, isto é, saturado de informações multisensoriais (verbais, visuais, auditivas, manuais); 2) a função transversal (AARSETH, 1995) da obra (o "acessar" e "percorrer" a obra), que neste caso se realiza através de comandos e ações que devem ser aprendidos; e 3) a interpretação, fundamental para a concatenação das diversas unidades (muitas vezes dispersas e enigmáticas) que compõem a obra. A conjugação desses três aspectos leva à comparação entre leitura e navegação aleatórias versus leitura e navegação estratégicas, que neste artigo discuto em termos de «configuração».