O trabalho tem como objetivo discutir a posição dos clÃticos em português, num contexto bem especÃfico — nos sintagmas preposicionados — com vistas a apresentar um caso de mudança encaixada (cf. Weinreich, Labov & Herzog,
1968: 101), a partir de uma amostra constituÃda por vinte textos portugueses, do séc. XIV ao séc. XIX. Em dado momento da lÃngua antiga, a representação de um fato concomitante a outro se fazia com [em + gerúndio]: em passando; porém, houve uma mudança e passou-se a empregar a construção [ao + verbo no infinitivo]: ao passar. Essa mudança foi decorrente do processo de nominalização dos verbos com o artigo o, antecedido da preposição a, usada para indicar movimento, o que gerou uma estrutura semelhante ao que chamo PCV (preposição-clÃtico-verbo): a o passar, em que o o é clÃtico anafórico de terceira pessoa (objeto direto). Ocorre, então, uma ambiguidade, que
bloqueou o uso de PCV; o que se resolveu (no perÃodo dos sécs. XVI-XVII) com a posposição do pronome: a passá-lo. Ora, a regra anterior nesse caso era a próclise; a ênclise vai afetar inicialmente só os PCVs. regidos pela preposição a; porém podendo se estender, mas não ecessariamente, à s demais preposições (de, em, para, por, sem), o que vai ficar evidenciado nos autores do século XIX. A mudança também vai atingir outro tipo de construção preposicionada, as perÃfrases compostas por verbo transitivo indireto, com a preposição a ou outras: lhe tornar a fazer, o haver de fazer (CVaV) passam a (VaVC): tornar a fazerlhe; haver de fazê-lo, respectivamente.