Partimos da hipótese, neste artigo, de que a polêmica, como recurso argumentativo/retórico definido por Amossy (2017), pode ser utilizada por sujeitos da religião para estruturar novas confissões religiosas ou criar dissidências dentro da Igreja à qual pertencem. Nosso corpus é composto por alguns excertos do Alcorão, livro sagrado do Islamismo; e de duas teses de Lutero, que deflagrou a Reforma Protestante. A natureza de nossa pesquisa é qualitativa, com fontes secundárias. Nossa metodologia consistiu em selecionar dados primários, contidos no Alcorão e nas teses de Lutero, e, em seguida, analisálos e interpretá-los. Foram considerados componentes da polêmica, como o dissenso e a erística. O referencial teórico que utilizamos é composto por estudos sobre polêmica realizados por Amossy (2017), Dascal (1988) e Kerbrat-Orecchioni (1980); além de pesquisas sobre retórica feitas por Reboul (2004), Meyer (2000), Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996) e Aristóteles ([1377-1403 a.C.], 2000); assim como publicações sobre religião de Chaunu (2002), Abdalla (1996) e Costa (1993). Os resultados que obtivemos confirmam nossa hipótese de que a polêmica cumpre um importante papel na religião, no sentido de gerar discussões necessárias, combater a opressão e “quebrar” hegemonias de ideias e grupos religiosos.
We start from the hypothesis, in this article, that the polemic, as an argumentative / rhetorical resource defined by Amossy (2017), can be used by subjects of religion to structure new religious confessions or create dissent within the Church to which they belong. Our corpus consists of excerpts from the Qur'an, the holy book of Islam; and two of Lutero theses, which sparked the Protestant Reformation. The nature of our research is qualitative, with secondary sources. Our methodology consisted of selecting primary data, contained in the Qur'an and Lutero theses, and then analyzing and interpreting them. Components of the polemic were considered, such as dissent and eristics. The theoretical framework we use is composed of studies on polemic conducted by Amossy (2017), Dascal (1988) and KerbratOrecchioni (1980); in addition to research on rhetoric by Reboul (2004), Meyer (2000), Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996) and Aristóteles ([1377-1403 B.C.], 2000); as well as publications on religion by Chaunu (2002), Abdalla (1996) and Costa (1993). The results we obtained confirm our hypothesis that the polemic plays an important role in religion, in the sense of generating necessary discussions, combating oppression and “breaking” hegemonies of ideas and religious groups.
