Revendo a relação entre corpo, cultura e linguagem (iniciada em Sémiotique des Passions, 1991), Jacques Fontanille procura estabelecer, na teoria semiótica francesa, um diálogo entre o sensÃvel e o inteligÃvel, a partir de um novo ângulo: assumindo um corpo biopsÃquico como importante entidade na construção do sentido, responsável por unir expressão e conteúdo, e presente no texto como vestÃgio da experiência, transformado em semiótica-objeto, plano de imanência e figura. No livro Corps et Sens (2011), o semioticista entrelaça arcabouços teóricos oriundos das ciências humanas e naturais, com conceitos de ordem semiolinguÃstica, propondo uma abordagem do sentido que relaciona a propriocepção, a enunciação, a figuração, os campos sensoriais, os vestÃgios materiais e a percepção de fenômenos, buscando uma relação entre corpo, discurso e práticas semióticas. Nesse artigo, pretende-se demonstrar facetas desse tipo de abordagem em relação ao texto literário. O romance escolhido, Os androides sonham com ovelhas elétricas? (1968), é um famoso texto de Philip K. Dick, autor norte-americano de ficção cientÃfica conhecido por produzir mundos distópicos e personagens que estão sempre à volta com questões sobre a identidade e os seus corpos.