Este artigo examina o filme Viagem a Citera (Taxidi sta Kythira, 1984), do cineasta grego Theodoros Angelopoulos (1936-2012), a fim de esclarecer como sua narrativa de viagem, uma narrativa de retorno ao lar, subverte as noções de kleos, nostos e noos tradicionalmente associadas à Odisseia (VIII a.C.) para sugerir como o mundo de hoje, ao contrário do mundo fantástico das narrativas homéricas, já não é mais um lugar para nenhum tipo de herói. Com base nesse exame, procurarei então discutir como a narrativa de retorno ao lar é um tipo bastante especial de narrativa de viagem, o qual merece ser examinado com mais especificidade por envolver com relativa frequência, em particular no cinema contemporâneo, um contato com a alteridade do familiar que por fim parece ser indissociável de um contato com a angústia do passado.