Desde o período colonial, a violência é constitutiva da cultura brasileira, sendo atrelada à sociedade sob diferentes formas. Diante disso, entende-se que a literatura pode ser uma ferramenta importante para a reflexão acerca dessa realidade, na medida em que reflete contextos de sofrimento e pode problematizá-los. Este artigo objetiva analisar os romances contemporâneos O matador, de Patrícia Melo (1995), e De gados e homens, de Ana Paula Maia (2013), buscando compreender como a crueldade e a desigualdade social são abordadas na constituição das narrativas, bem como a ocorrência de uma construção formal articulada ao conteúdo social representado. Para este fim, os trabalhos teórico-críticos de autores como Calegari, Ginzburg, Adorno e Arendt foram importantes para abordar a literatura contemporânea, a violência e sua relação. Com base na análise, verifica-se que as obras são relevantes para problematizar situações reais de violência, revelando uma face cruel, desigual e egoísta dos sujeitos, relacionados não só à figura do assassino, mas também a toda sociedade responsável pela formação da conduta humana. Isso se reflete também na linguagem, em que se revela uma escrita ora fragmentada entre fala de personagem e pensamentos, como no primeiro texto, ora rápida e relacionada com narrativas cinematográficas, como no segundo.
Since the colonial period, violence is constitutive of Brazilian culture, being linked to society in different forms. Therefore, it is understood that literature can be an important tool for reflection on this reality, insofar as it reflects contexts of suffering and can problematize them. This study aims to analyze the contemporary novels O matador, by Patrícia Melo (1995), and De gados e homens, by Ana Paula Maia (2013). It seeks to understand how cruelty and social inequality are approached in the constitution of narratives, as well as the occurrence of a formal construction articulated to the social content represented. For this work, the theoretical-critical works of authors like Calegari, Ginzburg, Adorno and Arendt were important to approach contemporary literature, violence and their relationship. Based on the analysis, the works are relevant to problematize real situations of violence, revealing a cruel, unequal and selfish face of the subjects, related not only to the figure of the murderer, but also to the society responsible for the formation of human conduct. Also, this is reflected in the language, which reveals sometimes fragmented writing between character speech and thoughts, just as in the first text, other times fast and related to cinematographic narratives, as in the second.