O objetivo desta pesquisa é analisar a interface entre violência doméstica e sofrimento psíquico, a partir da perspectiva de mulheres catadoras de materiais recicláveis. Trata-se de um estudo qualitativo, com abordagem construcionista social, realizado com 20 mulheres catadoras de resíduos sólidos, moradoras do Distrito Federal, Brasil. A entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados e os mapas de Associação de Ideias para análise dos conteúdos das falas foram utilizados. Os conteúdos extraídos a partir das narrativas coletadas estão divididos em três categorias temáticas: violência produzindo sofrimento psíquico, recursos para enfrentamento da violência, trabalho e sofrimento psíquico entre as mulheres que trabalham com resíduos sólidos. No trabalho, perceberam-se memórias pessoais do sofrimento vivido e experimentado no tempo presente no espaço laboral. Na leitura das mulheres, são escassos os recursos de ajuda, mesmo com o conhecimento do recurso jurídico. Contudo apareceram indícios de autoconhecimento do direito à vida, do respeito e da valorização de ser mulher. Conclui-se que são necessárias estratégias de resistência com atendimento psicossocial, jurídico e de proteção às mulheres, a fim de apoiar, de forma proativa, a redução de suas vulnerabilidades e facilitar a expansão de suas capacidades para enfrentar as causas da violência e produzir redes de cuidado, de suporte e de prevenção, que incluam seus filhos.
The objective was to analyze the interface between domestic violence and psychological distress from the perspective of women waste pickers. This is a qualitative study with a social constructionist approach conducted with 20 women waste pickers, residents of the Federal District, Brazil. Semi-structured interviews, as an instrument for data collection, and Association of Ideas maps were used to analyze the speech contents. The contents extracted from the collected narratives are divided into three thematic categories: violence producing psychological suffering, resources to deal with violence, and work and psychological suffering among women who work with solid waste. At work, personal memories of the suffering lived and experienced in the present time in the workplace were noticed. In the view of the women, aid resources are scarce, even with the knowledge of the legal resource. However, there were signs of self-knowledge of the right to life, respect and the worth of being a woman. Strategies of resistance with psychosocial, legal, and protection services of women are needed in order to proactively support the reduction of their vulnerabilities and facilitate the expansion of their capacities to address the causes of violence, and to produce networks of care, support, and prevention that include their children.