Visão e verdade

Revista Porto das Letras

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ISSN: 24480819
Editor Chefe: Carlos Roberto Ludwig
Início Publicação: 31/12/2014
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Letras

Visão e verdade

Ano: 2015 | Volume: 1 | Número: 1
Autores: André Vinicius Lira Costa
Autor Correspondente: André Vinicius Lira Costa | [email protected]

Palavras-chave: Ensaio sobre a cegueira, José Saramago, visão, verdade, hermenêutica

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Este trabalho discute as noções de visão e verdade a partir do romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. Para tal, mantém-se numa preocupação hermenêutica, compreendendo que as partes da obra de arte constroem sentidos copertinentes ao seu todo – este, por sua vez, é incompreensível fora de suas partes. Elucidando alguns personagens e episódios, encaminhamos, portanto, a elaboração poética de toda a obra; isso não exaure, contudo, suas possibilidades de interpretação. Ao desvelar outras vistas para a cegueira e cegueiras para a vista, Ensaio sobre a cegueira remete-se indiretamente à obra platônica e ao seu legado à nossa cultura, ainda que não seja uma obra de filosofia, nem se preocupa com a discussão e elaboração conceitual. Argumentamos como o romance desconstrói o privilégio ocidental dado à visão, mostrando a falibilidade da verdade como princípio norteador da existência humana. Alinhando-se ao autêntico horizonte da obra de arte, que é o de operar, mostrar, manifestar sentido – e daí abrir a possibilidade para qualquer conhecimento e representação –, a obra saramagueana dialoga com questões essenciais sem fazer concessões a contextos ou conjunturas específicas, isto é, sem restringir a obra a uma região ou época; não deixa, por outro lado, de cuidar e pensar nos envios e destinos históricos do ser humano. Ensaio também articula um sentido ético na cegueira, pois esta surge, em um de seus sentidos, como o horizonte em que os seres humanos vislumbram seu mistério, que é comum, compartilhado.



Resumo Inglês:

This paper discusses the notions of vision and truth in the novel Blindness, by José
Saramago. To achieve this, it holds a hermeneutic concern, understanding that the parts of the
work of art build meaning related to its whole – and this, in turn, is incomprehensible without its
parts. Elucidating some characters and episodes, we show the poetic elaboration of the work;
that does not, however, exhaust its possibilities of interpretation. By unfolding other sights to
blindness and other blindnesses to sight, Blindness relates indirectly to the platonic work and its
legacy to our culture, even though it is not a work of philosophy nor does it preoccupy with
defining and establishing concepts. We argue about how the novel deconstructs the occidental
privilege given to vision, exposing the fallibility of truth as a guiding principle to human
existence. Siding with the authentic horizon of the work of art, which is to operate, to show, to
manifest meaning – and then open the possibility of any knowledge or representation – the
Saramaguean work dialogues with essential questions without yielding to specific contexts or
conjunctures, that is, without constraining itself to a place or epoch; however, it does think and
care about the historical ways and destinies of the human being. Blindness also articulates an
ethical sense in blindness, because it emerges, in one of its meanings, as the horizon in which
human beings glance into their mystery, which is common, shared.