O propósito deste artigo é investigar as dinâmicas do trabalho prisional na Casa de Detenção do Recife durante o século XIX. Manuseando diversas fontes primárias, buscamos avançar para além da retórica dos gestores e dos regulamentos prisionais e enfatizar alguns aspectos do trabalho prisional como a possibilidade dos detentos transitarem fora do perímetro das instituições prisionais, quando da execução de algumas das suas atividades laborais. Não raro, essa modalidade de trabalho conferia aos presos uma vivência menos isolada do que se supunha e permitia uma experiência de “liberdade parcelar”. A observação dos presos em suas andanças pela cidade permite dimensionar os fluxos que atravessavam e interligavam a sociedade recifense e o universo do encarceramento e sublinhar as inúmeras implicações dessa contiguidade para o cotidiano prisional. No que concerne ao recorte cronológico, nossa observação está circunscrita à gestão de Rufino de Almeida (1861-1875).
The purpose of this paper is to investigate the dynamics of prison work at the Recife Detention House during the 19th century. Using various primary sources, we seek to move beyond the rhetoric of prison managers and prison regulations and to emphasize some aspects of prison work such as the possibility for detainees to move outside the perimeter of prison institutions when performing some of their labor activities. Not infrequently, this mode of work gave prisoners a less isolated experience than was supposed and allowed for an experience of “parcel freedom”. The observation of prisoners in their wanderings through the city allows us to scale the flows that crossed and interconnected the Recife society and the universe of incarceration and underline the countless implications of this contiguity for prison daily life. Regarding the chronological clipping, our observation is limited to the management of Rufino de Almeida (1861-1875).