Esse artigo apresenta alguns dos problemas com os quais eu tive de lidar ao realizar um estudo comparativo entre dois conjuntos de revoltas rurais do Império Romano tardio: as revoltas dos bagaudas na Gália e dos circunceliões na Ãfrica. O artigo toma como eixo articulador a hipótese lançada por E. A. Thompson sobre o papel do esquecimento na produção dos relatos antigos sobre os bagaudas e a problematiza. Num segundo momento o artigo trata do problema relacionado à compreensão do caráter social de ambos os grupos, levando em consideração os múltiplos relatos presentes nas fontes antigas e as divergentes interpretações modernas sobre eles, enfatizando a necessidade de se reconhecer a tópica da inversão social como um elemento que diferencia os relatos sobre os revoltosos daqueles sobre a bandidagem. Outro elemento importante é o reconhecimento da heterogeneidade dos discursos cristãos com relação à s classes subalternas e aos revoltosos, que apontam não para um fortalecimento do patronato rural, mas para o enfraquecimento ou para a crise dessas relações no campo tardo-romano.