O objetivo deste trabalho é analisar como a organização do fazer obstétrico motiva os praticantes a optar pelo parto humanizado, contribuindo para a mudança dessa prática. A pesquisa foi conduzida por meio da observação, empregando a onto-epistemologia da prática segundo Theodore Schatzki e a análise temática dos dados. Os resultados apontam que diferentes entendimentos acerca do corpo levam à reprodução das práticas obstétricas ou ao esforço em prol da sua mudança. Quando o corpo da mulher é tido enquanto um objeto (sendo a mulher uma mente que detém um corpo), a gravidez é um problema a ser resolvido. Por outro lado, quando esse passa a ser um “corpo-pessoa”, não é possível desassociá-lo da mulher. Consequentemente, a gravidez deixa de ser um problema, tornando-se um processo natural e fisiológico que deve ser respeitado, e não solucionado o mais rápido possível. Este trabalho contribui com o campo ao analisar como a mobilização das práticas se altera ao longo do tempo. Além disso, o estudo da obstetrícia revela a centralidade do corpo na performance dessa prática social. Afinal, é o corpo da mulher que entra em trabalho de parto, que dá à luz e que, infelizmente, ainda sofre violência obstétrica. Enfim, é esse o “veículo” que transporta as práticas.
This paper analyzes how the organization of obstetrical practice motivates a community to choose for humanized childbirth, contributing to the change of this social practice. The research was conducted through observation, employing Theodore Schatzki's practice ontoepistemology and thematic analysis of the data. The results point out that different understandings about the body lead to the reproduction of obstetrical practices or to the effort for their change. When a woman's body is taken as an object (woman is a mind that holds a body), pregnancy is a problem to be solved. On the other hand, when it becomes a "body-person," it is not possible to disassociate it from the woman. Consequently, pregnancy ceases to be a problem, making it a natural and physiological process that must be respected, and not solved as quickly as possible. This work contributes to the field by analyzing how the mobilization of practices changes over time. In addition, the study of obstetrics reveals the centrality of the body in the performance of this practice. After all, it is the body of the woman who goes into labor, who gives birth and who, unfortunately, still suffers from obstetric violence. In short, the body is the "vehicle" that transports practices.