A questão do uso abusivo de drogas tem sido assumida pela medicina como um problema médico desde o século passado. Apesar do desenvolvimento de teorias explicativas e de práticas direcionadas tanto ao tratamento dos indivíduos dependentes como à abordagem da minimização dos danos provocados pelo uso de tais substâncias, percebemos a hegemonia do discurso médico; por mais que haja tentativas de compreender os fenômenos relacionados ao uso de drogas através de modelos teóricos ligados às questões culturais, por exemplo, percebemos que a abordagem médica muitas vezes acaba considerando equivocadamente o simples uso das substâncias psicoativas como um problema. Esta relação de poder imposta pela medicina moderna se amplia na medida em que é imposto um juízo de valor pautado no discurso sobre chamado uso abusivo. Neste trabalho desenvolveremos uma análise sobre as imposições dos discursos médicos às demais áreas do conhecimento, dentre elas as ciências sociais e humanas, no que se refere à relação entre uso de substâncias psicoativas (prática cultural) e dependência química (doença). Assim, desenvolveremos a tese de que o uso de drogas pode e deve ser analisado sob outros pontos de vista que não o reduzem ao foco da doença, mas a processos de instauração de sociabilidades.
Drug abuse has been considered a medical issue by practitioners of medicine since the 20th century. Several explanatory theories and practices directed at both the treatment of addicted individuals and the minimization of the damage caused by the use of such substances have been developed. However, medical discourse is still dominated by the theory that the mere use of psychoactive substances a problem, even though there have been several attempts to understand the phenomena related to the use of drugs through theoretical models associated with cultural issues. The views imposed by modern medicine continue to expand because of value judgments based on the discourse on drug abuse. In this paper, we analyze the impositions of the medical discourses on other fields of knowledge, including the social sciences and humanities, regarding the relationship between psychoactive substance use (cultural practices) and addiction (disease). We advance a thesis that the examination of drug use can and must be focused from other points of view that do not reduce the issue to the assessment of the disease but that rather analyze the relevant social and cultural issues.
La cuestión del uso excesivo de drogas ha sido considerada por la medicina como un problema médico desde el siglo pasado. A pesar del desarrollo de teorías explicativas y prácticas dirigidas tanto al tratamiento de personas adictas, como al planteamiento que reduce al mínimo los daños causados por el uso de dichas sustancias, se observa que predomina el discurso médico. Aunque haya intentos de comprender los fenómenos relacionados con el uso de las drogas mediante modelos teóricos relacionados con cuestiones culturales, por ejemplo, vemos que el enfoque médico, a menudo erróneamente, acaba considerando el simple uso de sustancias psicoactivas como un problema. Esta relación de poder impuesta por la medicina moderna se amplía a medida que se impone un juicio de valor regido por el discurso referente al llamado uso excesivo de drogas. En este trabajo se desarrolla un análisis sobre las imposiciones de los discursos médicos a los demás campos del conocimiento, entre ellas las ciencias sociales y humanas, en cuanto a la relación entre el consumo de sustancias psicoativas (práctica cultural) y la adicción química (enfermedad). Así, desarrollamos la tesis de que el uso de drogas puede y debe analizarse desde otros puntos de vista distintos, que no lo reduzcan a la óptica de la enfermedad, pero a procesos de creación de sociabilidad.