Como escritoras negras constituem sua voz autoral no romance? Abordaremos a questão a partir da leitura de Úrsula (1859), As mulheres de Tijucopapo (1982) e Um defeito de cor (2006), romances escritos por autoras negras em diferentes momentos da história. No texto de Maria Firmina dos Reis, a autoria negra se constitui no discurso, não se apóia em índices de auto-referencialidade da escritora, posto não haver registros de sua imagem nem maiores detalhes de sua biografia. Na obra de Marilene Felinto, inexiste correspondência entre o posicionamento da autora frente a escrita literária negra e a construção da personagem narradora, cuja trajetória se pauta na intersecção raça, classe, gênero, localidade. Por fim, Ana Maria Gonçalves ficcionaliza a própria constituição de seu lugar autoral ao inventar um manuscrito da historia narrada, investindo na autoria enquanto agenciamento coletivo de enunciação negra, mesclando sua voz a Luiza Mahin – signo de grande potência para o feminismo negro.
How do black women writers develop their own writing voice in a novel? This question will be discussed by focusing on three novels written by Black Brazilian women in different historical epochs: Úrsula (1859) by Maria Firmina dos Reis, As mulheres de Tijucopapo (1982) by Marilene Felinto and Um defeito de cor (2006) by Ana Maria Gonçalves. In Maria Firmina dos Reis’s text, the Black author is constituted through the point of view presented in her discourse; Ana Maria Gonçalves fictionalizes her authorship bymixing the narrative voice with that of Luiza Mahin. Finally, Marilene Felinto rejects enunciative categories that are socially constructed.