A favela é um tema pulsante no debate público da sociedade brasileira, especialmente no Rio de Janeiro.
Sua presença marcante não é recente: desde os anos 30 do século passado começou a ser definida como
o principal problema público dessa cidade, até aí capital do país. Desde então, várias alternativas foram
pensadas para exterminar aquele espaço que representava, na cabeça dos governantes e das elites, o
que de mais degradante existia nessa metrópole, tanto no que se refere aos seus habitantes quanto às
suas formas de organizar o espaço. Diante de uma cidade que procurava se modernizar nos moldes das
grandes capitais europeias, destruir as favelas – ou pelo menos, retirá-las das regiões mais nobres para
que perdessem a visibilidade – passou a ser uma das principais preocupações do Estado brasileiro. Esse
mesmo Estado tinha ainda interesse em inserir essa população como mão de obra barata – mas
disciplinada – em seu projeto desenvolvimentista. Sendo assim, as políticas habitacionais destinadas a
essa parcela da sociedade visavam, ao mesmo tempo, oferecer novas habitações aos despejados –
distanciando-os fisicamente das classes mais abastadas – e inseri-los em um novo estilo de vida, mais
adequado ao ideal de normatividade urbana e ao projeto político em vigor. A ida para novas habitações
demandava mais do que uma mudança física: exigia uma transformação de atitudes e valores.