Tendo em vista a forma como o pensamento de Hegel se relaciona às questões do
realismo e do naturalismo, pretendo relembrar o caráter diretivo para ele do problema da mediação
entre consciência pura e consciência empírica, já antecipando a envergadura intersubjetivista da
discussão proposta por ele (1). Em seguida, vou lançar mão de reflexões críticas de Adorno sobre
a dialética de Hegel para obter um sentido materialista da discussão em torno dessa mediação (2).
Na terceira parte, pretendo reconstruir o argumento de McDowell para atribuir a Hegel certo
compromisso com o empirismo mínimo e, a partir daí, com o realismo epistemológico (3). Na
penúltima parte, apresento criticamente a interpretação oferecida por McDowell para a célebre
dialética do senhor e do escravo (4). Finalmente, à guisa de conclusão, procuro recuperar a
formulação de uma hipótese interpretativa da gênese da autoconsciência em Hegel a partir das
contribuições de Adorno, McDowell e Pippin.
What follows is an attempt to interpret Hegel’s possible responses to contemporary
debates on naturalism and epistemological realism. I am going to consider firstly the role played
since Hegel’s first works by the mediation between pure and empirical self-consciousness in
avoiding the consequences of mentalist and subjectivist paths pursued in German philosophy (1).
Then I reconstruct the main directions of Adorno’s critical interpretation of Hegel’s dialectic in order
to apprehend the materialistic meaning of the above-mentioned mediation (2). Thirdly, I examine
McDowell’s overall interpretation of Kant and Hegel. The discussion aims to highlight Hegel’s
commitment to a ‘minimal empiricism’ and then to epistemological realism (3). Then I would like
to critically present McDowell’s interpretation of Hegel’s exposition of the famous
‘Lordship/Bondage Dialectic’ (4). Finally, based on Adorno’s, Pippin’s and McDowell’s
comprehension of Hegel’s discussions on the genesis of self-consciousness, I conclude by
formulating an interpretative hypothesis about the materialistic, naturalist and realist constituents of
Hegel’s response to the problem of the connection between pure apperception and effective
consciousness.