Recentemente, as polícias americana e européia desbarataram uma rede de pedofilia em que os próprios pais trocavam uns com os outros fotos pornográficas de seus filhos. Pois bem: repulsa é o mínimo que sentimos frente a casos como esse. Mas de onde virá tal nojo? Ora, a tendência é explicá-lo com base na interdição ao incesto. Contudo, a partir das observações de Foucault acerca da genealogia da família moderna, pretendo questionar essas explanações usuais. Para começar, tentarei mostrar que a constituição da família moderna, em sua vertente burguesa, é parte de um jogo de diferenciações em face da subjetividade e da sexualidade proletárias. Depois disso, argumentarei que é justamente esse jogo de diferenciações o que se encontra ameaçado pelo comportamento dos pais pedófilos da Internet. Por fim, procurarei sustentar que o nojo em face deles vem da recusa em aceitar a suspensão do sistema de diferenciações a que eu me referia.
Recently, American and European polices dismantled a gang of parents whose fetish was to trade one another pornographic pictures of their own children. This kind of case is evidently disgusting. But how can this repulse be explained? We tend to hypothesize that this feeling is a consequence of the interdiction of incest. However, based on the Foucauldian genealogy of modern family, I will make an attempt to object to this usual explanation. Firstly, I will argue the constitution of modern family is, for upper classes, a mechanism of differentiation from proletarian subjectivity and sexuality. Additionally, I will argue that the very basis of this system of differentiations collapses in virtue of the case analyzed in my essay. In fact, this collapse is the disturbing and disgusting aspect of the case.