Adaptável”, “sutil”, móvel”, “plástica”: eis os termos com que o Freyre caracteriza a experiência colonial portuguesa no Brasil. Distorção nostálgica de uma realidade em que a repressão deu sempre o tom? Talvez. Mas não se deve deixar de reconhecer que adaptabilidade, sutileza, mobilidade e plasticidade são precisamente os traços atribuídos por Foucault ao poder — pelo menos, em suas formas mais modernas. Esse é o dado inicial a partir de que pretendo aproximar as obras de Michel Foucault e Gilberto Freyre. Hipótese geral do ensaio: Freyre é, quanto ao dispositivo colonial, uma analista da face polimorfa, capilar e plástica do poder.
“Adaptable”, “subtle”, “flexible”: these are the terms invoked by Gilberto Freyre in order to characterize the Portuguese colonial enterprise in Brazil. Nostalgic distortion of a reality marked by violence and repression? Perhaps. But it must be recognized that adaptablity, sublety and flexibility were the hard core of Foucauldian concept of power. This resemblance between the two authors is the point of departure of this essay. My hypothesis: Freyre is an analyst of the capilar, plastic and polymorphous aspects of Portuguese colonial power.