Crer é o ato que expressa não apenas uma conclusão lógica de uma formulação, mas a adesão plena, consciente e livre da totalidade de nosso ser àquilo que nomeamos “Deus”. Trata-se, pois, de um de um esforço humano, mas, igualmente, de um ato da graça. A fé é, portanto, relação profunda entre cogito e credo. Perceber o limite entre o que é possível conhecer e afirmar de Deus, a partir da razão - de modo específico desde a Filosofia do Mistério apresentada pelo filósofo cristão Gabriel Marcel (1889-1973) -, bem como compreender tal filosofia como preambulum fidei é o objetivo desse texto. Segundo Marcel, existe uma profunda diferença entre “eu penso” e “eu creio”. O primeiro está na ordem do pensamento e o segundo, na ordem da fé. A ordem do pensamento tem como critério de subsistência o cogito; a ordem do credo tem como fundamento o amor. Quando queremos dizer a experiência religiosa a partir e exclusivamente do cogito, temos um ato que pensa a fé, o qual é diferente do ato de fé. Como, portanto, podemos dizer o mistério da fé? Como dizer a inteligibilidade da experiência religiosa? Eis aqui nossa hipótese: para o pensador francês, essa “porta de entrada”, nomeada pela tradição de cogito, é falível e equivocada para essa questão. Se o dizer a inteligibilidade da experiência religiosa possui como critério único o cogito, estaremos dizendo apenas o que pensamos do mistério e não o mistério em si mesmo. “Dizer” o mistério não é conceitualizá-lo, mas, aproximarmo-nos dele e, a partir dele, plenificarmos o nosso próprio ser. Eis, portanto, a originalidade de Marcel: ter tentado, ao lado das virtudes teologais do cristianismo, incidir certa apreensão da transcendência como aparecido à pessoa, como transpessoal, como “Tu Absoluto”.
Belief is the act that expresses not only a logical conclusion of a formulation, but the full, conscious, and free adherence of the totality of our being to what we call "God." It is therefore a human endeavor, but also an act of grace. Faith is therefore a profound relationship between cogito and creed. Understanding the limit between what is possible to know and affirm of God, from reason - specifically since the Philosophy of Mystery presented by Christian philosopher Gabriel Marcel (1889-1973) - as well as understanding such a philosophy as preambulum fidei is the purpose of this text. According to Marcel, there is a profound difference between "I think" and "I believe." The first is in the order of thought and the second in the order of faith. The order of thought has as its subsistence criterion the cogito; the order of the creed is based on love. When we mean religious experience from and exclusively on the cogito, we have an act that thinks faith, which is different from the act of faith. How, then, can we tell the mystery of faith? How to tell the intelligibility of religious experience? Here is our hypothesis: For the French thinker, this "gateway", named by the cogito tradition, is fallible and mistaken for this question. If saying the intelligibility of religious experience has as its sole criterion the cogito, we are saying only what we think of the mystery and not the mystery itself. To "tell" the mystery is not to conceptualize it, but to approach it and, from it, to fulfill our own being. This is Marcel's originality: to have tried, along with the theological virtues of Christianity, to focus on a certain apprehension of transcendence as appeared to the person, as transpersonal, as "Thou Absolute”.