O presente trabalho tem por objetivo propor um ensaio sobre diferentes temporalidades que podem ser associadas à resposta ao HIV/Aids. Essas diferentes temporalidades têm se desdobrado a partir da centralidade que intervenções biomédicas passam a tomar, num processo que vem sido descrito como de biomedicalização de tal resposta. Um momento de maior dramaticidade, marcado por um pesado pânico moral nas políticas da sexualidade, teria dado lugar a um de maior otimismo, em que promessas biomédicas vêm emergindo de maneira cada vez mais concreta. Para dar conta dessas temporalidades e procurando entrecruzá-las, parto de uma abordagem pós-estruturalista para produzir uma narrativa que passa tanto pelas contribuições de uma antropologia da ciência quanto pelas de uma antropologia das emoções. Levando em particular consideração uma crítica feminista à materialidade, o movimento interpretativo esperado é o de uma descrição de agenciamentos complexos em que a estabilidade do HIV/Aids e suas intervenções possa ser colocada sob suspeita. A proposta aqui é a de descrever cada um desses distintos momentos, chamando atenção para o caráter performativo de tais temporalidades nas políticas de (co)produção do conhecimento. Procuro também explorar essas temporalidades a partir de uma investigação etnográfica realizada sobre a emergência da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), como uma intervenção biomédica promissora na seara da prevenção ao HIV. Finalmente, procura-se apresentar uma narrativa em que as histórias carregadas pelo HIV e suas intervenções não sejam lineares. Chamando atenção para como o enquadramento das temporalidades propostas, embora útil, não dá conta de perceber avanços e desafios. Seja em termos dos afetos que pairam sob uma epidemia altamente estigmatizante, ou ainda em termos das infraestruturas necessárias na resposta a esta epidemia.