HISTORICAMENTE IRREVERENTE: O FILME XICA DA SILVA COMO RESISTÊNCIA AO REGIME MILITAR

Humana Res

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ISSN: 2675-3901
Editor Chefe: Antonia Valtéria Melo Alvarenga
Início Publicação: 16/07/2019
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Ciências Humanas, Área de Estudo: Ciência política, Área de Estudo: Educação, Área de Estudo: Geografia, Área de Estudo: História, Área de Estudo: Sociologia, Área de Estudo: Letras, Área de Estudo: Linguística

HISTORICAMENTE IRREVERENTE: O FILME XICA DA SILVA COMO RESISTÊNCIA AO REGIME MILITAR

Ano: 2019 | Volume: 1 | Número: 1
Autores: Maria Fernanda Fernandes
Autor Correspondente: Maria Fernanda Fernandes | [email protected]

Palavras-chave: Xica da Silva. Resistência. Cacá Diegues.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O filme Xica da Silva (1976) foi dirigido pelo cineasta Carlos Diegues mais conhecido no meio cinematográfico como Cacá Diegues. A produção tem como protagonista uma escrava de mesmo nome habitante do Arraial do Tijuco, (hoje Diamantina), localizado na então província de Minas Gerais. Xica obteve liberdade, riqueza e poder graças à paixão de João Fernandes de Oliveira, o comendador a quem a Coroa portuguesa havia dado o direito da extração de diamantes na região. O filme se passa quando a mineração era a atividade econômica preponderante no Brasil. Em meados do século XVIII, ao passo que a metrópole aumentava seus impostos e sua fiscalização sobre as minas do Arraial do Tijuco, os filósofos, artistas e os revolucionários ansiavam cada vez mais pela libertação. Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar como Xica da Silva pode ter sido utilizado como uma alegoria de resistência à opressão durante o regime militar vigente no Brasil desde 1964. Em relação a protagonista este trabalho visa discutir a respeito das tentativas de transformá-la em um ponto de reflexão sobre os problemas e contradições do Brasil colonial e contemporâneo, inclusive utilizando o humor e a irreverência como instrumentos de críticas. Para alcançar tais resultados foi analisado o filme propriamente dito e algumas entrevistas, críticas de jornais e revistas especializadas em cinema da época, que fornecessem informações sobre a construção técnica e principalmente a respeito da construção de sentido da película frente a relação do tempo que foi representada, (século XVIII) e o tempo no qual foi produzida (durante o regime militar). Constatou-se que houve por parte do diretor uma intencionalidade de fazer de Xica da Silva uma alegoria de resistência e de sobrevivência ainda que individual a repressão colonial, sinalizando para a contestação ao regime militar, por intermédio da irreverência e críticas à coroa feitas por parte dos habitantes do arraial, percebe-se o descontentamento frente ao poder absoluto da coroa sobre os mesmos, numa comparação ao caráter controlador da ditadura brasileira. A constante conspiração contra João Fernandes e Xica também retoma a enfática vigilância tanto do período setecentista quanto da década de 1970. Percebeu-se também que sendo Cacá Diegues um dos fundadores e principais membros do Cinema Novo, movimento que se tornou conhecido por afirmar defender uma problematização direta dos problemas sociais brasileiros, o filme foi alvo de críticas constantes por ser considerado alegórico demais, não fazendo ressalvas diretas ao regime militar, no entanto, embora as referências à ditadura estejam diluídas, a escolha do tema já é um indicativo da postura do autor: retratar a história de uma negra escrava que quer se tornar livre. (ROSSINI, 1997).