Este artigo examina o livro Soledades de Buçaco (1634), de Bernarda Ferreira de Lacerda, um conjunto de narrativas em verso a propósito do convento carmelita masculino de Santa Cruz do Buçaco, buscando compreender as formas como essa autora portuguesa se apropria de aspectos da religiosidade e de ideias filosóficas do mundo ibérico moderno. A obra é também analisada em relação a um quadro das práticas da escrita dos séculos XVI e XVII, em especial a escrita de mulheres, e de seus contextos institucionais e sociais. O artigo sugere, ainda que brevemente, os desígnios e vinculações por trás da elaboração e publicação do livro, e os modos pelos quais ele promove o culto e o poder da ordem do Carmelo.