Cotidianamente os Kanhgág utilizam classificações para situar os indivíduos com quem se relacionam. Alguns termos remetem diretamente ao sistema de metades (Kamé e Kanhru), como o regre e o jamré, outros atingem as formas de comportamento, o índio puro e o indiano. Entre as duas posições aparentemente diametrais surgem, respectivamente, os termos kanhkó e misturado, que rompem a oposição e configuram os grupamentos de parentes como unidades e distingue os demais grupos indígenas dos brancos. Este artigo pretende apresentar e explorar as particularidades dessas denominações e problematizar tais elementos no quadro da discussão sobre o dualismo ameríndio. A partir da pesquisa etnográfica realizada na Terra Indígena Nonoai e nas aldeias Por Fi Ga e Fosá, foi possível constatar que os elementos utilizados para as distinções formam o mesmo conjunto acionado no sistema de metades e, da mesma maneira, encobre na diametralidade o concentrismo e o triadismo.