O artigo trata da confrontação crítico-positiva de Martin Heidegger com Edmund Husserl com base em dois momentos importantes de seu Denkweg ao longo da atividade docente nas Universidades de Freiburg e Marburg. O primeiro emerge no curso friburguense de 1919 intitulado “A ideia da filosofia e o problema da visão de mundo” (GA 56/57), onde Heidegger esboça sua concepção hermenêutica da fenomenologia com a introdução da expressão “intuição hermenêutica” no final da preleção acadêmica. O segundo momento selecionado da confrontação se dá no curso do semestre de inverno de 1923-1924 intitulado “Introdução à investigação fenomenológica” (GA 17), onde não somente critica diretamente as obras de seu mestre, mas também através da “destruição” tanto do “ponto de partida” quanto do “escopo” da fenomenologia, a saber: a apropriação husserliana de R. Descartes. Nesse sentido, trata-se de uma “polêmica contra Husserl disfarçada de crítica a Descartes”. Do syn-philosophein inicial com Husserl (“A fenomenologia somos eu [Husserl] e Heidegger, de resto mais ninguém”), mesmo dentro de uma contínua tensão, Heidegger passa a uma ruptura cada vez mais radical até se consumar no parricídio completo ora nas preleções do semestre de verão de Marburg intituladas “Prolegômenos para a história do conceito de tempo” (GA20), ora na tentativa fracassada da elaboração a duas mãos do artigo “Fenomenologia” para a Encyclopaedia Britannica em 1927.
The article deals with the critical - positive confrontation of Martin Heidegger with Edmund Husserl, based on two important moments of Heidegger’s Denkweg, throughout his teaching activity in the universities of Freiburg and Marburg. It is first in his 1919 Freiburg course, entitled “The idea of philosophy and the problem of world view” (GA 56/57), that Heidegger outlines his hermeneutic conception of phenomenology, with the introduction of the term “hermeneutic intuition”, at the end of his academic lectures. The second moment of confrontation takes place in the winter semester of 1923-1924 and is entitled “Introduction to phenomenological research” (GA 17). There, Heidegger criticizes his master’s works, both directly and through the “destruction” of the “starting point” and “scope” of phenomenology, namely Husserl’s appropriation of R. Descartes. In this sense, it is a “polemic against Husserl disguised as criticism against Descartes.” In a context of continuous tension, Heidegger moves away from the early syn-philosophein with Husserl - “Phenomenology is myself [Husserl] and Heidegger, nobody else”. The philosopher makes an increasingly radical break until the parricide is consummated with both his Marburg summer lectures, entitled “Prolegomena to the history of the concept of time” (GA20) and the failed attempt to prepare, together with Husserl, the article “Phenomenology” for the Encyclopaedia Britannica in 1927.