A usurpaçáo e a violência fundiárias no Nordeste foram temas caros às ciências sociais brasileiras desde anos 1960. A sociologia rural abordou de formas diversas a questáo do uso e do acesso à terra no mundo das grandes lavouras. O passado colonial marcou o território com uma estrutura fundiária problemática, atravessada pela violência das relações patrono-clientes. Neste artigo refletimos sobre as tramas sócio-históricas das relações fundiárias à luz do atual contexto de especulaçáo imobiliário-turística no litoral nordestino. Como campo empírico, apresentaremos o caso do quilombo de Sibaúma, no litoral sul do Rio Grande do Norte. Essa nova configuraçáo socioeconômica, na qual interagem investidores estrangeiros, turistas, proprietários locais e grupos nativos, reativa ancestrais problemáticas fundiárias do “mundo rural” relativas ao controle e à posse do território.
Land violence and usurpation in the Northeast are a well-known issue in Brazilian social sciences since the 1960s. Rural sociologists have dealt with the question of land use and access to land within great plantations. The colonial period has left a problematic land tenure structure, marked by the violence of the clientelistic and paternalistic relations. In this paper, we analyze the socio-historical patterns of social relations involving land tenure in the light of the current real estate and touristic speculation context. Our empirical field is based on the case of the afro-descendant community of Sibauma (Rio Grande do Norte), in the northeastern coast of Brazil. The new socioeconomic configuration, which include foreign investors, tourists, local landowners and native groups, tends to exacerbate the land tenure problems inherited from historical territorial struggles.