Empréstimos chineses se tornaram alternativas viáveis de financiamento durante a onda rosa devido à ausência de cláusulas de condicionalidade tradicionais. No entanto, essas operações financeiras, além de outras de diversos tipos, implicam com frequência a condicionalidade cruzada. Contrário à condicionalidade tradicional, a condicionalidade cruzada implica que operações nas áreas de comércio, financeira ou de ajuda ao desenvolvimento sejam prejudicadas em resposta a decisões de autoridades nacionais que mudem condições de projetos paralelos. O objetivo do presente trabalho é explorar as possíveis consequências políticas da condicionalidade cruzada nos assuntos domésticos dos países da América Latina. A hipótese é que a condicionalidade cruzada representa um risco similar àquele da condicionalidade tradicional em termos de autonomia nacional, mas por motivos diferentes. Se conclui que a condicionalidade cruzada afeta os esforços governamentais de construção de uma coalizão de governo devido aos impactos potenciais que ela possa ter sobre parceiros importantes do mesmo. No Brasil, o setor agroexportador, parceiro chave da coalizão de governo atual, seria aquele que poderia ser potencialmente afetado se o governo chinês decide implementar a condicionalidade cruzada como medida de retaliação a políticas ou declarações hostis do governo brasileiro a respeito de interesses chineses.
Chinese credits became a viable, and preferred, alternative during the pink tide in part because it lacked traditional conditionality clauses. However, these financial operations, as well as others, often imply the existence of cross-conditionality. In opposition to traditional variants of conditionality, cross-conditionality implies that operations in the realms of trade, finance, or aid for development can be jeopardized as a response to decisions taken by national authorities that change previously agreed conditions in parallel projects. The main objective of this study is to explore the possible consequences of cross-conditionality, particularly the political consequences, in the Brazilian government’s coalition building. The hypothesis is that cross-conditionality represents a similar risk than the one that traditional conditionality represented in terms of national autonomy insofar as national governments would still have their hands tied, although for different reasons. We find that cross-conditionality affects the coalition-building efforts of national governments since it can be used to affect key government partners. In Brazil, agribusiness, a key partner of Bolsonaro’s government, is the sector that could be potentially affected if the Chinese government decides to implement cross-conditionality as a retaliatory measure to hostile policies or declarations of the Brazilian government vis-à-vis Chinese interests.