Charles Baudelaire seria o poeta melancólico do século XIX? Para o filósofo alemão Walter Benjamin, sim. As poesias de As flores do mal trazem consigo uma modernidade fragmentada, apresentando alegoricamente os cacos e detritos consequentes da modernidade. Irônico e melancólico, o poeta percebe no presente a perda da possibilidade daquilo que Benjamin caracterizou como Erfahrung, a experiência plena. Por outro lado, no ensaio intitulado O pintor da vida moderna, sobre o pintor Constantin Guys, (que será chamado pelas iniciais de seu nome, C. G., durante todo o texto) Baudelaire caracteriza a modernidade de maneira um tanto diversa da forma concebida pelo filósofo alemão, uma vez que é apresentada como aquilo que é oposto ao antigo, tendo na efemeridade uma de suas principais características. Observaremos que o transitório, portanto, é também uma característica do belo. Por tudo isso, o presente artigo se propõe abordar a modernidade em Baudelaire, analisando sua importância nos escritos de Benjamin. Veremos, então, que não há contradição entre o Baudelaire de As flores o mal, analisado a partir do ensaio benjaminiano Sobre alguns temas em Baudelaire, e o ensaio O pintor na vida moderna, do poeta francês. Não existiriam, por conseguinte, dois conceitos de modernidade no poeta, e sim dois aspectos da mesma questão, dois modos de tratar o mesmo tema a partir de pontos de investigações diferentes que, contudo, se complementam.