A pandemia do SARS-CoV-2 chegou no final de 2019 como um evento social de grandes proporções. Ampla e massiva, ela impactou os atuais limites do conhecimento científico. Em 11 de março de 2020, a OMS formalizou a existência da pandemia. Embora prevista em estudos anteriores, revelou-se como um assombro. Um fenômeno sanitário, impactante à civilização e seus componentes territoriais, culturais, econômicos, sociais ou políticos. Em alguma medida, rompem-se as relações sociais tais quais existiam anteriormente [1].
No Brasil, a população vive atordoada com a infodemia, uma desinformação provocada principalmente pelas autoridades políticas. Exemplos não faltam de debates artificiais como a obrigatoriedade, ou não, da aplicação da vacina nas pessoas pelo Presidente da nação. A repercussão negativa dessa infeliz colocação é demonstrada em estudo da revista LANCET publicada em 10 de setembro de 2020. Nele, o Brasil figura entre os países onde aumentou a desconfiança no sistema de imunização, considerado um dos melhores do mundo. Neste estudo, os dados sobre a confiança da população nos processos de vacinação caem de 73% para 63% nos que creem que as vacinas são seguras; de 75% para 56% nos que acreditam na eficácia; e de 92,8% para 88% nos que confiam na sua importância [2]. Também o Datafolha e o site DataPoder observaram quedas significativas nos índices de confiabilidade da população neste período [3].
DEFESA DO SUS: O Índice de Segurança Global de Saúde da OMS, avaliou em 2019 um conjunto de 195 países em termos da capacidade de segurança da saúde. Neste ano, o Brasil, amparado pela existência do SUS (com suas inúmeras limitações), logrou 22º lugar entre todas as nações e o 1º lugar na América Latina. O atual governo desarticulou a rede de serviços disponíveis pelo SUS e seus efeitos foram então observados na redução do número de óbitos na pandemia por COVID-19. Para piorar o cenário, em 2021, a Lei de Diretrizes Orçamentárias encaminhada pelo governo ao Congresso Nacional prevê cortes nos recursos do SUS na ordem de R$ 47 bilhões [4].
Os números falam por si. Embora viva no Brasil apenas 2,8 da população mundial, concentramos 11,4% das mortes por COVID-19, mesmo levando em consideração uma grande subnotificação de casos e mortes no país. Amargamos a dor de uma mortalidade quatro vezes maior que a média mundial. E, na nova onda, o vírus já está disseminado por todos os cantos do território nacional, aumentando ainda mais os riscos à população [5].
Em meio a diversas iniciativas inovadoras em curso, o CIDACS/FIOCRUZ Bahia lançou no último dia 09/12/2020 o Índice Brasileiro de Privação-IBP, com dados sobre desigualdade social nos diversos setores censitários do IBGE. Ao lado disso, um conjunto amplo de organizações lançaram neste dia 15/12/2020 um movimento chamado “Frente pela Vida”, que reunirá personalidades e organizações diversas com dois objetivos: enfrentar a pandemia e defender o SUS. Será mais uma mobilização pela ciência, pela democracia e pela saúde para a maioria da população [6].