Este artigo apresenta apontamentos, sobre uma possível interpretação da forma sonata clássica adaptada para um contexto atonal, no primeiro movimento do Quarteto de cordas n. 3 de Heitor Villa-Lobos. No âmbito da música brasileira, Villa-Lobos foi o compositor que mais escreveu quartetos de cordas. No cenário internacional da música do século XX, sua produção está em segundo lugar em termos quantitativos. Todavia, algumas análises mais antigas com base apenas nos parâmetros da música tonal, defendem a ideia de que Villa-Lobos não utilizou a forma sonata em seus quartetos de cordas. No entanto, análises mais recentes demonstram a habilidade de Villa-Lobos em adaptar a forma sonata para um contexto não-tonal, assim como fizeram outros compositores vanguardistas. No caso do primeiro movimento do Quarteto de cordas n. 3 é possível notar a manipulação das classes de alturas que demarcam as entradas das seções, em substituição as relações tonais da forma sonata clássica. Sendo assim, torna-se patente a proficiência composicional de Villa-Lobos, ao manusear um dos gêneros mais consagrados da música de câmara europeia (Quarteto de Cordas) e uma das estruturas formais mais significativas da música ocidental (Forma Sonata).
This article presents comments on a possible interpretation of the classical sonata form adapted to an atonal context, in the first movement of The String Quartet No. 3 by Heitor Villa-Lobos. In the context of Brazilian music, Villa-Lobos was the composer who wrote string quartets the most. In the international music scene, his production is in second place, in quantitative terms. However, some older analyses, based only on tonal music parameters, defend the idea that Villa-Lobos did not use the sonata form in his string quartets. However, more recent analyses demonstrate Villa-Lobos’ ability to adapt the sonata form to a non-tonal context, as did other avant-garde composers. In the case of the first movement of String Quartet n. 3, it is possible to notice the manipulation of the pitches that demarcate the entries of the sections, replacing the tonal relations of the classical sonata form. Thus, Villa-Lobos’ compositional proficiency becomes evident, by handling one of the most established genres of European chamber music (String Quartet) and one of the most significant formal structures of Western music (Forma Sonata).