Domingos Caldas Barbosa (1738/40-1800), de pseudônimo Lereno Selinuntino, é um importante poeta do século XVIII, carioca radicado em Lisboa, autor de muitas cantigas, modinhas e lundus. Foi fundador, inclusive, da Academia de Belas Letras de Lisboa, juntamente com Belchior Curvo de Semedo Torres de Sequeira, Joaquim Severino Ferraz de Campos e Francisco Joaquim Bingre. Além de presidente dessa Nova Arcádia, Caldas Barbosa foi responsável pelo Almanak das Musas, importante antologia neoclássica, publicado em 1793, em Lisboa. Apesar de ter feito fama, enquanto vivo, quer nos salões aristocráticos portugueses, quer no Brasil, inclusive, entre muitos ouvintes analfabetos, a crítica sobre sua obra acostumou-se a colocar em segundo plano o “brasileiro papagaio”, como assim se nomeou Lereno, com humor, em seu Almanak. No entanto, não se sancionou, por assim dizer, um dos mais importantes artistas da música e da literatura colonial brasileira, de que foi compositor e intérprete, sendo um exímio poeta e violeiro, seja no Brasil, seja em Portugal, onde introduziu gêneros como a modinha. Este artigo propõe traçar, de modo sintético, o percurso da crítica dirigida a Caldas Barbosa, que recebeu ofensas inclusive de poetas consagrados, com quem participou de muitas atividades literárias no Palácio do Conde de Pombeiro, como Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) e José Agostinho de Macedo (1761-1831). Também, comentam-se sobre alguns versos de Caldas Barbosa, procurando verificar neles expedientes expressivos que ajudem a compreender a poética lereniana. Para isso, intercalam-se a historiografia crítica mais relevante e comentários sobre as cantigas do poeta, retiradas principalmente da obra Viola de Lereno, publicada em dois volumes (1798; 1826). Em suma, levantam-se argumentos da crítica de Lereno e expõem-se observações a respeito de seus versos, buscando reconhecer-lhe o artístico. Em paralelo, comenta-se sobre a tradição crítica da obra lírica e dramática de Machado de Assis, além da crítica “neotérica” de Cícero, na Roma Antiga, propondo uma reflexão sobre a Historiografia da Crítica.
Domingos Caldas Barbosa (1738/40-1800), whose pseudonym is Lereno Selinuntino, is an important poet of the 18th Century, a carioca based in Lisbon, author of many cantigas, modinhas and lundus. He was the founder of the Academia de Belas Letras de Lisboa, with Belchior Curvo de Semedo Torres de Sequeira, Joaquim Severino Ferraz de Campos e Francisco Joaquim Bingre. Besides being the president of the Nova Arcádia, Caldas Barbosa was responsible for the Almanak das Musas, an important neoclassical anthology, published in 1793, in Lisbon. Although his fame, during his life, either in the Portuguese aristocratic halls or in Brazil, amid many illiterate listeners, the criticism on his work was used to put in the second place the “Brazilian parrot”, as Lereno named himself, with humor, in his Almanak. However, it has not yet been properly acclaimed one of the greatest artists of the Brazilian colonial music and literature, of which he was composer and performer, as an expert poet and musician, even for Brazil or Portugal, where he introduced genres as the modinha. This article proposes to trace, in a synthetic way, the path of the criticism on Caldas Barbosa, which received offenses including from consecrated poets with whom he has participated in many literary activities at the Conde de Pombeiro’s Palace, as Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) and José Agostinho de Macedo (1761-1831). Likewise, it seeks to comment on Caldas Barbosa verses to verify significant poetry achievements which help the understanding of the lerenian poetic. For this, the more relevant historiographical criticism is analyzed with comments on the verses of the poet, from, mainly, the work Viola de Lereno, published in two volumes (1798; 1826). In sum, one highlights topics of the criticism on Lereno and observations on his verses, seeking to recognize in it an artistic pattern. In relation to the critic historiography, one comments also, in parallel, about the critical tradition of the lyrical and dramatic work by Machado de Assis, besides the neoterical criticism of Cicero on Catulo’s poetry, in Ancient Rome, proposing a reflection on the Criticism phenomena.