A criação do mundo, de Miguel Torga, traz uma inovação na escrita autobiográfica quando mostra claramente uma ambiguidade que permeia o texto, definida por Lejeune como sendo a relativização da escrita pela verdade histórica e pela ficção. O livro apresenta, aparentemente, a história de uma vida como tantas outras que a literatura ao longo dos tempos revelou, sem grandes complicações no enredo, uma existência contada com suas alegrias e suas tristezas. Em A criação do mundo, vê-se o pacto zero descrito por Lejeune em que há uma indeterminação ou mesmo ausência de nome na narrativa. Clara Rocha, em um estudo consistente sobre o espaço autobiográfi co em Torga, admite a possibilidade de que um texto intimista possa ser mesclado de fi cção e história e de que há uma possibilidade do estilo interferir tanto no conteúdo da narrativa quanto na sua aceitação pelo leitor. Assim sendo, este trabalho propõe que a obra seja lida de uma maneira diferente, desconfi ando do conteúdo manifesto, dando ao texto uma abertura interpretativa maior.
“A criação do mundo”, of Miguel Torga, brings an innovation in autobiographical writing when clearly shows an ambiguity that pervades the text, wich Lejeune defi nes as the relativization of historical truth and the fi ction. The book presents, apparently, the story of a life as many other that the literature revealed over time with no major complications in the plot, telling about a life with its joys and its sorrows. In “A criação do mundo” it’s possible to realize the zero pact described by Lejeune where there is uncertainty or lack of name in the narrative. Clara Rocha, in a consistent study about space autobiographical in the work of Torga, she admits the possibility that an intimate text can be merged by fiction and history and that there is a possibility that may interfere with the style of the narrative both in content and in the reception of the reader, therefore, this paper proposes that the work can be read in a different way, mistrusting the manifest content, giving the text a greater openness of interpretation.