O artigo discute representações midiáticas da tecnologia enquanto elemento estruturante da sociedade do consumo neoliberal contemporânea à luz do pensamento flusseriano. Toma, por ponto de partida, a análise do texto Da gula, publicado originalmente pelo autor no jornal O Estado de São Paulo, em 1963. O objeto empírico escolhido para esse percurso é o imaginário social sobre o futuro da comida, no âmbito do qual a tecnologia assume diferentes perspectivas, que vão desde a denúncia do seu papel na exaustão dos recursos naturais e do comprometimento da sobrevivência humana, até a superação das mazelas do capitalismo industrial pela reinvenção laboratorial de novos alimentos. O corpus é composto por matérias jornalísticas que foram capas de revista de diferentes gêneros no ano de 2019, das quais os excertos extraídos são analisados com o suporte teórico-metodológico da análise do discurso. Explorando visões da tecnociência como dispositivo autônomo e irrefreável de produção do desenvolvimento, segundo suas próprias dinâmicas e racionalidades, o artigo problematiza as possibilidades de regulação social do progresso tecnológico no âmbito de uma ética tecnológica para o futuro.
The article discusses media representations of technology as a structuring element of contemporary neoliberal consumer society in the light of Flusserian thought. It takes, as a starting point, the analysis of the text “Da gula”, originally published by the author in the newspaper O Estado de São Paulo, in 1963. The empirical object chosen for this journey is the social imaginary about the future of food, within the scope from which technology takes on different perspectives, ranging from denouncing its role in depleting natural resources and compromising human survival, to overcoming the ills of industrial capitalism by reinventing new foods in the laboratory. The corpus is composed of journalistic articles that were magazine covers of different genres in 2019, from which the excerpts extracted are analyzed with the theoretical and methodological support of discourse analysis. Exploring views of technoscience as an autonomous and unrestrained device for the production of development, according to its own dynamics and rationalities, the article problematizes the possibilities of social regulation of technological progress within the scope of technological ethics for the future.
