O presente artigo consiste em uma investigação a respeito da desordem psíquica (stasis), da felicidade e da virtude na intervenção de Alcibíades no Banquete de Platão. Assim, na primeira parte, o artigo destaca que sobressai como um dos traços de caráter mais marcantes de Alcibíades uma enorme confusão ou stasis psíquica; depois, que no relato que faz das ações de Sócrates evidencia-se justamente o contrário, isto é, a harmonia interior do filósofo, além de suas diversas virtudes (1). À luz disso, na segunda parte o artigo levanta algumas questões sobre uma provável relação entre esses elementos da intervenção de Alcibíades e ideias expostas no discurso de Diotima e na República (2): dado que virtude e felicidade são ideias centrais tanto no discurso de Diotima quanto na República, a leitura da intervenção de Alcibíades aqui sugerida não poderia ser corroborada por esses textos? A resposta sugerida é que, perante uma leitura mais cuidadosa tanto da República quanto do discurso de Diotima - algo que não poderá ser realizado a contento aqui -, a relação entre stasis/harmonia, virtude e felicidade sugerida pela intervenção de Alcibíades deveria ser vista com mais cautela. Em face disso, na terceira parte, tentando enxergar outros sentidos da intervenção de Alcibíades, o artigo explora uma oposição que o Banquete delinearia, por composição anelar, entre dois amantes de Sócrates: Apolodoro, narrador do Banquete e homem "musical" ou "teórico", e Alcibíades, homem político prestes a levar Atenas à catástrofe na Sicília. Dessa forma, o artigo termina defendendo que Alcibíades não representaria apenas o homem desarmonioso, vicioso e portanto infeliz: representaria também, de forma antecipada, uma imagem distorcida do filósofo que, em contraste com a imagem do filósofo representada por Apolodoro, retorna à caverna (Rep. VII, 520c), ou seja, dedica-se à política (3).