O presente artigo busca associar três noções – diferença ontológica, pós-fundacionismo e exterioridade constitutiva – para repensar o sentido do fundamento na teoria do discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. O objetivo reside em desenvolver a noção de fundamento autoestabelecido, noção que visa a destacar a maneira como as formações discursivas teorizadas por Laclau e Mouffe tendem a operar como sistemas fechados que produzem e descrevem o seu entorno através de suas próprias operações. Através de uma justaposição entre a teoria do discurso e a teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, o artigo reforça a maneira como os sistemas discursivos constroem e são construídos em interação com o seu exterior, reorganizando continuamente os seus elementos e, com isso, as descrições que fazem do seu exterior. Um fundamento autoestabelecido, portanto, reitera a dinâmica circular e diferencial presente na relação entre um sistema discursivo e o seu exterior. Através de um desenvolvimento estritamente ontológico, o pós-fundacionismo, este artigo tenta desenvolver também as implicações epistemológicas da teoria do discurso em termos construtivistas.