Frequentemente, os inflamados debates estético-musicais que estiveram em pauta na França da segunda metade do século XVIII e que deram origem ao episódio conhecido como Querela dos Bufões foram reduzidos a um curioso anedotário ou a uma guerra panfletária produzida tão somente pelos humores de seus aguerridos combatentes, os quais, postados sob os camarotes reais e divididos em defensores da tradição musical francesa e entusiastas da música italiana, disparavam críticas mútuas, sob a forma de panfletos, a exemplo das farpas lançadas por Jean- -Jacques Rousseau, filósofo e músico autodidata, contra os partidários da música francesa e, especialmente, contra seu arqui-inimigo na cena musical da Ilustração, o renomado compositor e teórico da música Jean-Philippe Rameau. No presente artigo, para além da reconstituição histórica da famosa Guerra dos Bufões, procedemos à análise dos próprios argumentos apresentados por Rousseau em sua ardorosa, porém articulada defesa da ópera italiana em contraposição à ópera versalhesa, tais como aqueles expostos em sua Carta sobre a música francesa.
The enthusiastic aesthetic debates that were on the agenda in France in the second half of the 18th century and which gave rise to the episode known as Querelle des Bouffons were often reduced to a pamphlet war produced only by the moods of its combatants posted under the theater boxes, and divided into defenders of the French musical tradition and enthusiasts of Italian music, fired mutual criticisms in the form of pamphlets, such as the splinters launched by the self-taught musician and philosopher Jean-Jacques Rousseau against the partisans of French music, especially against his arch-enemy in the Enlightenment music scene, the renowned composer and music theorist JeanPhilippe Rameau. In the present article, far from making a historical reconstruction of the famous Guerre des Bouffons, we seek to analyze the arguments presented by Rousseau in his ardent, but articulate defense of Italian opera as opposed to Versailles opera, such as those set out in his Letter on French music.