A posição de Kant em relação ao problemados milagres é quase desconhecida e não é completamente clara. Dentre as várias questões que permanecem obscuras e controversas destaca-se a de saber se Kant considerou (ou não) que milagres fossem impossíveis (ou inviáveis) por serem violações de leis naturais. Para responder à questão começo por pontuar que Kant a enfrentou explicitamente em vários cursos de metafísica ao comentar e criticar a cosmologia de Baumgarten. A seguir, investigo, seleciono e analiso várias Preleções de Metafísica (sobretudo L1 Pölitze Dohna, mas também Mrongovius e K2/Heinze) e as comparo com a Metaphysicade Baumgarten, a Enquiryde Hume, e outras fontes da época para reconstruir a posição de Kant. Mantenho que Kant aceitou a possibilidade de milagres que não violariam a ordemda natureza, mas apenas o cursoda natureza (nossa expectativa de regularidade a partir da experiência passada). Mostro também que nas Preleções Kant defende uma concepção que admiteexplicitamentea possibilidade dos milagres e indica sua relevância do ponto de vista prático. Na conclusão defendo que Kant tomou uma posição intermediária entre Hume e Baumgartenque é compatívelcom o "idealismo transcendental" de sua Filosofia Crítica.
Kant ́s position concerning the status of miracles is not entirely clear and seems rather to present a somewhat controversial idea. One of the many issues that remain unclear is whether Kant took miracles to be "impossible" as violations of natural lawsor not. To answer to this question I point out, first, that Kant addressed the issue throughout his Lectures on Metaphysicsby commenting on Baumgarten ́s cosmology. Then I track down several lectures, analyze and compare them with the Metaphysica,the Enquiryand other sources to present a reconstructionof Kant ́s conception. I maintain that Kant took miracles to be possible to the extent that they are not incompatible with the orderof nature, but only with the course of natureas expected from past experience and observation. Moreover, I show that in the LecturesKant holds a conception that explicitlyallows for the possibility of miracles and presents a criterion for assuming miracles under very exceptional circumstances from the practical point of view. In the concluding remarksI defend that Kant ́s account of miracles is different from Baumgarten ́s and Hume ́s, and still compatible with Transcendental Idealism.