O texto debate a suposta contradição sobre a admissão das duas dimensões do conceito de liberdade na KrV, o da liberdade transcendental e o da liberdade prática, trazidas pelos capítulos da Dialética transcendental e do Cânone da razão pura. A respeito desse debate há, de um lado, intérpretes que consideram incompatíveis as doutrinas da liberdade expostas na Dialética e no Cânon ao admitirem uma concepção de moralidade pré-crítica e, por isso, dissasociada daquilo que viria a ser desenvolvido na GdMS e na KpV. De outro lado, há intérpretes que afirmam que a suposta incompatibilidade entre as duas seções da Primeira Crítica refere-se a um problema meramente exegético, vindo a encontrar aí subsídios em defesa da compatibilidade entre os dois conceitos de liberdade na KrV, em harmonia com o exposto por Kant, sobre o papel da liberdade, na fundação da moralidade na GdMS e na KpV. À luz destas interpretações sobre a suposta incompatibilidade entre Dialética e Cânon, no que tange aos conceitos de liberdade prática e transcendental, mostraremos que não há contradição, uma vez que, tratam-se de capítulos dedicados em solucionar problemas diferentes e que, por isso, não devem ser lidos de modo unilateral.