Em Intertexto, poema de B. Brecht, uma questão filosófica é tratada: por que devo preocupar-me com os outros? A alusão ao poema insere-nos de pronto no vértice desse trabalho. Trata-se do problema da alteridade. Percorreremos as abordagens clássicas da ética autocentrada, situando em cada uma delas um vício original, a saber, a confusão entre tempo e espaço. Fora dos marcos da metafísica bergsoniana, deixa-se de considerar uma dimensão da realidade, o tempo. O resultado será a constituição de uma ética coadunada com a natureza das representações intelectuais – espaciais, portanto –, estruturada pela lógica da conservação, o que sacrificará necessariamente o alcance da universalidade, compreendida em seu sentido largo, a qual não será jamais, sob a perspectiva bergsoniana, alcançada sem o contato com o que há de mais íntimo no real, o tempo, o movimento criador. O caráter autorreferenciado da tradição ética aparecerá como desdobramento de um modo de vida (fechado) que orienta a confecção e interpretação da forma legal, atingido pela manifestação normal de nossas faculdades para estar e agir no mundo.
In a Brecht’s poem a philosophical question in posed: why should I care about others? The poem projects us in the core of this paper, about the “problem of alterity”. We intend to pass through the classical self-centered approaches in moral philosophy, discerning in each one of them a main misperception: the correspondence between time and space, that results in a intellectualized ethics, guided by special representation, structured by the logic of conservation. This approach necessarily put down the intuition of broad universality, wich, according to Bergson, can’t be reached without the intuition of real time, the creative movement of reality. This self-centered aspect of classical ethics appears, for Bergson, as a development of a closed way of living, the one that orientates the form of the law and is archived by the usual manifestation of our spatial faculties of intelligence.