Ulisses, herói multifacetado, astuto e industrioso, confrontou figuras mitológicas como herói épico (Odisseia), narrou sua própria morte na condição de alma danada (Divina comédia) e foi transformado em expediente literário nos escritos de Primo Levi, que o empregou para figurar experiências dramáticas ocorridas nos campos de concentração. Pretende-se aqui investigar o lugar ocupado por Ulisses e, simultaneamente, o papel desempenhado pela cultura nos escritos de Levi. Retomar, analisar e propagar narrativas compromissadas com eventos que, frequentemente, são objeto do negacionismo histórico, como é o caso da Shoah, pode nos ajudar a perceber as potencialidades da literatura (de testemunho ou não) e a necessidade de usá-la em favor não apenas da produ- ção de conhecimento, mas também de efeitos persuasórios, na medida em que convida o leitor a refletir sobre prerrogativas do seu presente.