Este artigo pretende traçar o clima da época para o conceito de discurso na Gramática de Port-Royal (GPR) quanto ao que se pensava no século XVII sobre o “bom uso” da língua, delimitando a relevância desse texto fundador (COLOMBAT; FOURNIER; PUECH, 2010) no panorama da História das Ideias sobre a Linguagem. Publicada em 1660, a GPR tornou-se famosa por ser considerada um trabalho pioneiro na área da Filosofia da Linguagem. Seus autores pretendiam propor um estudo filosófico e racional da linguagem. A GPR contrastava com a tônica dos estudos linguísticos da época, sintonizados com a preocupação acerca da questão do “bom uso” (bon usage) da língua, compreendido meramente em termos estilísticos. Tal recorte se mostrou necessário devido à generalidade com a qual se investia o conceito de discurso, visto como sinônimo de fala/uso, que deve ser regulado por regras, e influenciou o referencial teórico da Gramática Gerativo-Transformacional de Noam Chomsky.
This article intends to trace the climate of time for the concept of discourse in Port-Royal Grammar (PRG) as to what was thought in the 17th century about the “good use” of language, which delimitates this founding text’s relevance (COLOMBAT; FOURNIER; PUECH, 2010) for the History of Ideas on Language. Published in 1660, PRG became famous for being considered a pioneering work in the area of Philosophy of Language. Its authors intended to propose a philosophical and rational study of language. PRG contrasted with the tone of linguistic studies of the time, which was in tune with the concern about the “good use” of language, understood merely in stylistic terms. Such an epistemological cut was necessary due to the generality with which the concept of discourse was invested, seen as a synonym for speech/use, which must be regulated by rules. This perspective has influenced Noam Chomsky's Generative-Transformational Grammar theoretical construct.