Neste artigo investigamos a distinção massivo-contável na língua Rikbaktsa (Macro-Jê). Partimos do questionário de Lima & Rothstein (2020), o qual procuramos responder levantando os dados em um acervo inédito do qual já dispúnhamos, na pouca literatura sobre a língua (Boswood 1971, 1978; SIL 2007; Silva 2011), e em uma elicitação de dados com um falante nativo. A análise mostrou que há morfologia de plural e que ela não se combina com nomes de massa. Nomes que denotam átomos estáveis se combinam diretamente com numerais. Para serem contados, nomes de substância exigem a presença de sintagmas de medidas. Esses são indícios de que a língua em questão pode ser caracterizada como uma língua de número marcado (Chierchia 2010, 2015), mesmo que haja alguns nomes de massa que podem ser contados diretamente. Em nenhuma das quinze línguas apresentadas em Lima & Rothstein (2020) há relato de um morfema especializado para marcar massa. Chacon (2012) afirma que o Kubeo (Tukano-Oriental) exibe um demonstrativo de massa. Esse é também o caso em Rikbaktsa, mas nesta língua o demonstrativo na ‘isto’, que seleciona nomes massivos, se espalha pela gramática: aparece com marca de terceira pessoa no pronome pessoal a-na, com proformas interrogativas e em construção atributiva. Este estudo contribui, portanto, para uma melhor compreensão da distinção massivo-contável através das línguas e da gramática desta língua minoritária.
The paper investigates the count-mass distinction in Rikbaktsa (Macro-Jê). It presents the results of data collected following Lima and Rothstein’s questionnaire (2020). The data was gathered using an unpublished corpus, the scarce literature on this language (Boswood 1971, 1978; SIL 2007; Silva 2011), and elicitation with a native speaker. The analysis shows that there is plural morphology which does not combine with mass nouns. Nouns that denote stable atoms combine directly with numerals. Substance nouns require measure phrases to be counted. These are indications that this language can be classified as a number marking language (Chierchia 2010, 2015), even if there are some mass nouns that combine directly with numerals. None of the fifteen languages in Lima & Rothstein (2020) are reported to have a specialized mass morpheme. Chacon (2012) claims that Kubeo (Tukano-Oriental) has a demonstrative for mass. This is also the case in Rikbaktsa, but in Rikbaktsa, it is spread across the grammar: the demonstrative na‘this’ combines with a third person marker on the personal pronoun a-na, with interrogative proforms, and in attributive constructions. This study contributes to a better understanding of count-mass distinction across languages and of the grammar of this minority language.