O livro de Eunice Dias de Paula apresenta uma análise pouco comum de línguas indígenas brasileiras. Nessa análise não encontramos a tradicional descrição gramatical, nem a discussão tipológica. Por isso, é importante situar o leitor em outra perspectiva. Eunice de Paula analisa a língua dos Apyãwa colocando a comunidade de fala em primeiro plano, seguindo os pressupostos de Dell Hymes (1974, 1986). Nessa proposta, as estruturas linguísticas são resultantes de princípios básicos que norteiam a comunidade de fala, ou seja, identificar esses princípios básicos que regulam ou promovem as interações linguísticas nos permite compreender as estruturas da língua e, principalmente, porque as línguas se diferenciam. No caso dos Apyãwa, já adiantando a conclusão da autora, a cortesia e a gentileza são expressões primordiais desse povo, marcadas intrinsecamente na língua, seja nas saudações cotidianas, seja nas marcas linguísticas presentes nas narrativas míticas, seja nos cantos rituais. Em todos esses eventos, o comum é uma relação de gentileza e cortesia com outro Apyawã, com os espíritos dos antepassados ou com os Axyga, Espíritos que fazem parte da cosmologia dos Apyãwa e os acompanham, por exemplo, na construção e manutenção da Takãra.