Marshall Sahlins costuma afirmar que “toda sociedade é de casas”, brincando com o conceito de “sociedade a casas”, de C. Lévi-Strauss, contrapondo-o ao senso comum segundo o qual toda sociedade tem casas. A referência é (respeitosamente) jocosa. A brincadeira indica justamente o oposto do que o conceito propõe: especificar um tipo de sociedade em uma grande narrativa. Este tipo não seria nem o das estruturas elementares de parentesco nem o das complexas, mas o conceito de sociedades a casas estaria próximo daquele de estruturas semicomplexas, nas quais se multiplicam as proibições matrimoniais. Este “estar entre” estruturas elementares e complexas é de um ponto de vista lógico e não histórico. Pode-se ver aqui uma grande narrativa neoevolucionista, ainda que o estruturalismo possa ser dito como oposto disso1 e Lévi-Strauss tenha se posicionado contra esta posição em entrevista a P. Lamaison2 . De todo modos, não estão aqui no terreno das conjecturas evolucionistas; ao contrário, o conceito de sociedade a casas exige análise histórica.