O artigo discute as construções sociais de gênero e as distinções geracionais nas relações entre os modelos e práticas de produção e reprodução da vida social de uma população falante de língua Tupi-Guarani, habitante da região de fronteira entre Brasil e Paraguai. O empenho é situar, a partir dos atributos alocados a cada um dos sexos e ao pertencimento geracional, o modo como as pessoas são integradas ao fogo doméstico kaiowa, módulo organizacional que, grosso modo, corresponde à família nuclear, tal qual a conhecemos na sociedade brasileira. A reflexão aqui proposta procura dar continuidade a estudos desenvolvidos na dissertação de mestrado e na tese de doutorado nos quais se realizou uma abordagem da morfologia social kaiowa, sensível não apenas ao modelo segundo o qual esta população tradicionalmente concebe as suas instituições, mas também as profundas modificações produzidas pelo contato, pelo recolhimento da população nas atuais reservas e pelos processos de degradação da paisagem natural, cada vez mais intensos.