A etnoficcção enquanto um estilo próprio no universo da produção dos filmes etnográficos é explorada aqui como o resultado do encontro etnográfico, e, como tal, capaz de contribuir para a reflexão acerca do caráter subjetivo inerente ao processo de sua construção. Considerar a contribuição da etnoficção enquanto modo de representação implica reconhecer o modo específico que a relação entre antropólogo e atores-sujeitos da pesquisa toma no processo de criação. Através da análise fílmica, que caracteriza a estrutura do texto que se segue, a idéia é estabelecer relações com a posição de autoridade do antropólogo diante de seus pesquisados. Para isso, estabeleço um exercício comparativo entre algumas cenas de duas etnoficções — La Pyramide Humaine, de Jean Rouch (1961), e Transfiction, de Johannes Sjóberg (2007) — para problematizar o caráter reflexivo, improvisado e compartilhado da relação que então se estabelece no processo criativo.