Feito Déjà Vu nasceu da experiência de pesquisa na cena contemporânea de Maceió, Alagoas. Movida pelo reconhecimento de assimetrias de gênero no campo da fotografia — categoria na qual estou inserida enquanto fotógrafa —, investiguei como as autorrepresentações de mulheres produzem fraturas na fotografia masculinista dominante. Caracterizada por operar em detrimento das mulheres fotógrafas e das mulheres fotografadas, a fotografia dominante além de promover a invisibilização feminina em campo de atuação artística e profissional, historicamente retrata o gênero sob o viés da objetificação sexual, estereótipo interseccionado às relações racistas e classistas. Na contramão desse pensamento, o ensaio emergiu do gesto artístico de aprender na prática com fotógrafas, parceiras de pesquisa, a como recriar imaginários e visualidades, ou seja, a como me autorrepresentar a partir de uma conscientização da prática fotográfica. Mais especialmente, através de uma experiência com afeto e educação em campo, o ensaio é um retrato do sentimento nostálgico que é ver, sob perspectiva da vida adulta, a infância de minha prima Alicia, tão semelhante a mim. Uma tentativa de me retratar em meus próprios termos, de retratar minha memória afetiva: a pesca, o pé na terra, o rastro no céu, o sítio, a carta de amor... Como num sonho, entrelaçando nossas vidas e os acervos imagéticos de nossas infâncias — sendo o dela fruto de meus registros —, evoco a experiência de ver a criança crescendo nela, ao passo em que morre em mim. Nesse sentido, como uma antropóloga-fotógrafa encarnada, esboço uma produção na qual as fronteiras entre racionalidade científica e emoção, sujeito e objeto, arte e ciência são postas em questão.