O protagonismo feminino negro nas religiões afro-brasileiras é um campo de possibilidades para os estudos das experiências de mulheres racializadas em diversas temporalidades. O presente trabalho tem como objetivo analisar as casas afro-religiosas, entre 1870 e 1889 no Rio de Janeiro, como espaços de sociabilidade feminina. As chamadas casas de dar fortuna despontam na imprensa carioca como locais de articulação da religiosidade negra em uma cidade escravista. Rainhas, mães, filhas e frequentadoras se tornaram figuras marcantes para a compreensão desse objeto de estudo. A partir da leitura de documentos, à primeira vista repletos de distorções, buscamos desvendar pistas e indícios sobre a participação de mulheres plurais nesses encontros. Sob a lógica do paradigma indiciário proposto por Carlo Ginzburg (1989), analisaremos matérias publicadas nos periódicos que circulavam no período estudado, além do processo criminal de José Sebastião da Rosa (1872). Foi possível perceber, a partir da interseccionalidade (Crenshaw, 2002), diferentes experiências femininas que se cruzavam na afro-religiosidade. Mulheres negras livres, libertas ou escravizadas, brancas trabalhadoras ou das elites se encontravam nessa encruzilhada em busca de autonomia e transformação.
The role of black women in Afro-Brazilian religions is a field of possibilities for studying the experiences of racialized women in different temporalities. This paper aims to analyze Afro-religious houses between 1870 and 1889 in Rio de Janeiro as spaces of female sociability. The so-called houses of fortune emerge in the Rio de Janeiro press as places where black religiosity was articulated in a slave city. Queens, mothers, daughters and frequenters become important figures for understanding this object of study.By reading documents that at first glance are full of distortions, we seekto uncover clues and indications about the participation of plural women in these meetings. Under the logic of the indicative paradigm proposed by Carlo Ginzburg (1989), we analyzed articles published in the periodicals that circulated during the period studied, as well as the criminal trial of José Sebastião da Rosa (1872). Based on intersectionality (CRENSHAW, 2002), it was possible to perceive different female experiences that intersected with Afro-religiosity. Free, freed or enslaved black women, white workers or elite women found themselves at this crossroads, in search of autonomy and transformation.