O que o carro pode expressar obre a relação entre território urbano, o cinema e o medo? Pensando nisso, o artigo analisa Aquarius (2016), a partir da perspectiva bakhtiniana dialógica do discurso, que parece viabilizar a compreensão do cinema enquanto arena ideológica, atravessada por várias vozes em modos de interação muito complexos. Partimos da hipótese de que as imagens em movimento do carro são enunciados discursivos que se adicionam à influência da estética de terror/horror do cinema de gênero no filme de Kleber Mendonça Filho. Observamos o deslocamento de estereotipias de classe e raça mobilizadas pelo medo como afeto estruturante na exclusão daquilo que está fora dos muros. Sobre isso, encontramos correspondência no que Dunker (2015) intitula como “lógica de condomínio”. Por essas vias pensamos e elaboramos um esboço do que seria uma análise territorial fílmica brasileira, contribuindo para a criação do estilo do diretor. Para isso, pensamos o território como conceito de dimensão política, atravessado por conflitos históricos de classe, raça ou gênero e que está expresso no discurso das imagens, entendidas enquanto texto.