O viés feminino da lenda de Olisipo na escrita de Natália Correia e Dulce Maria Cardoso

Convergência Lusíada

Endereço:
Rua Luís de Camões, 30 - Centro
Rio de Janeiro / RJ
20051-020
Site: https://www.convergencialusiada.com.br/
Telefone: (21) 2221-3138
ISSN: 2316-6134
Editor Chefe: Ida Alves
Início Publicação: 15/05/2024
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Linguística, Letras e Artes, Área de Estudo: Artes, Área de Estudo: Letras

O viés feminino da lenda de Olisipo na escrita de Natália Correia e Dulce Maria Cardoso

Ano: 2024 | Volume: 35 | Número: 52
Autores: Larissa Fonseca e Silva
Autor Correspondente: Larissa Fonseca e Silva | [email protected]

Palavras-chave: Natália Correia, Dulce Maria Cardoso, Mito fundacional, Memória cultural, Olisipo

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Associar o nome de Ulisses à fundação de Lisboa, forçando etimologias que ligariam a personagem homérica (já com o nome latinizado) a Por­tugal, tem sido, desde há muito tempo, uma forma de dignificar a nação, dando-lhe um patriarca famoso – como as outras figuras masculinas que aparecem, por exemplo, em Os Lusíadas. Não importa que a personagem seja mítica; afinal, “[o] mytho é o nada que é tudo”, como escreve Fernan­do Pessoa. Se a Olisipo (Lisboa) mítica torna-se, então, parte da história de Portugal, torna-se, também, mais recentemente, fonte para reflexões que partem de uma perspectiva feminina. Isso se observa em contos como “A Ilha de Circe”, de Natália Correia, homônimo ao livro publicado em 1983, e “Tudo são histórias de amor”, de Dulce Maria Cardoso, também homônimo ao volume em que se insere, publicado em 2014. Em ambos os contos, a lenda de que o périplo de Ulisses teve em terras portuguesas uma parada fundadora é retomada para que se dê destaque, porém, às deusas que estariam ligadas a essa fundação: Circe, no conto de Natália, e Ophiusa, no conto de Dulce Cardoso. Os dois contos também têm em comum o fato de que trazem a figura masculina não pelo viés da glória colonizatória e da autoridade, e sim, para se utilizar um termo bastante contemporâneo, da irresponsabilidade afetiva. Daremos foco a esses pontos neste ensaio, ligando Olisipo a outras possíveis gêneses míticas, femi­ninas, de Portugal.



Resumo Inglês:

Associating the name of Ulysses with the founder of Lisbon, forcing ety­mologies that would link a Homeric character (already with a Latinized name) to Portugal, has been a way of dignifying the nation, giving it a famous patriarch – like the other male figures that appear, for example, in Os Lusíadas. It does not matter that the character is mythical; after all, “[o] mytho é o nada que é tudo”, as Fernando Pessoa wrote. If the myth­ical Olisipo (Lisbon) then becomes part of the history of Portugal, it also becomes, more recently, a source for reflections that start from a female perspective. This can be seen in short stories such as “A Ilha de Circe”, by Natália Correia, and “Tudo são histórias de amor”, by Dulce Maria Car­doso. In both short stories, the legend that Ulysses’ journey had a stop in Portuguese lands is taken up to highlight, however, the goddesses who would be linked to these places: Circe, in Natália’s short story, and Ophiu­sa in the text by Dulce Cardoso. The two narratives also have in common the fact that they feature a male figure not through the lens of coloniz­ing glory and authority, but rather, to use a very contemporary term, of emotional irresponsibility. We will focus on these points in this essay, linking Olisipo to other possible mythical female genesis of Portugal.