O artigo a seguir dedica-se a discutir as distorções da memória coletiva brasileira e, especificamente, as motivações por trás das disputas pelas narrativas dos acontecimentos das rupturas democráticas de 1964. Os argumentos apresentados apontam para a confluência de fatores como a aliança do setor militar e das classes dominantes e o modelo neoliberal com seus efeitos na vida cotidiana, com o objetivo de apagar a consciência coletiva acerca das tensões sociais ou da luta de classes. Para tal, o texto vale-se das considerações dos professores Marcos Napolitano e Rodrigo Turin acerca de suas reflexões sobre o negacionismo e o revisionismo histórico e da “aceleração do tempo” como dimensão da dinâmica social do neoliberalismo, respectivamente. Como chave interpretativa, esses conceitos abrem valorosas elucidações para todos os interessados em uma leitura ampla dos espectros políticos e sociais do Brasil contemporâneo. Espera-se que o presente ensaio sirva como ferramenta reflexiva no auxílio de trabalhos futuros que visem compreender a atual conjuntura partindo da disputa pela memória coletiva nacional, principalmente quanto ao maior trauma institucional percebido no último século: a ditadura militar. Trazer à tona a discussão em torno da memória do mais recente período de ruptura democrática constitui elemento basilar para explicar a luta de classes no Brasil contemporâneo, pois as forças políticas em tensão, em grande medida, podem ser consideradas sob a perspectiva da continuidade.